Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres" Rosa Luxemburgo

Últimas

não-héteros e misoginia

O que as cisões dentro dos movimentos não-heterossexuais (para evitar siglas cada vez maiores) nos dizem? O que pensar de gays “discretos” que explicam o preconceito sofrido por gays que, para eles, não sabem se comportar? Ou de certos grupos não-heterossexuais que não se sentem ameaçados pelos riscos sofridos por travestis ou transgêneros? Ou de causas do movimento LGBTTUVXZ(whatever) que só dizem respeito a uma parcela dos não-heterossexuais? E da invisibilidade lésbica? Talvez isso nos diga um pouco sobre a falta de altruísmo e solidariedade, ou sobre problemas com identificação ou até sobre baixa auto-estima mas, acima de tudo, isso reforça que o valor primordial da homofobia é a misoginia. É a evidência mais lógica de que o ódio pelas mulheres prevalece e que a nossa sociedade ainda é dirigida por valores patriarcais. O homem gay “discreto” pouco representa enquanto gay para a sociedade e, muito menos, para os movimentos de luta por respeito. Enrustido, confortável em seu cargo executivo e com seu poder aquisitivo, não sofre preconceito e a tão falada homofobia só o atinge no que é tangível às questões jurídicas, ele dificilmente conhecerá a violência. A verdadeira vítima dessa homofobia é o homem “gay social”, o visivelmente homossexual, definido por seu comportamento “afetado”. E o que é a “afetação” senão a mimese de uma série de comportamentos culturalmente relacionados à “mulherzinha”? A figura do homem gay, não representa ameaça aos homofóbicos enquanto um Ser social isolado, mas no que ele representa enquanto subversão do gênero masculino, entenda, como portador de um pênis. Esses são espancados nas ruas de qualquer cidade do mundo na intenção de destruírem a mulher que, em algum nível, ele comporta. Há aquela máxima da cultura misógina, até relativamente útil (quando respeitada), que diz que não se deve bater em mulher, mas um “viado” não é uma mulher, ou é? A violência homofóbica é a válvula de escape de um sistema que se multiplica em infinitos fatores repressivos que, mesmo quando violentos, são assimilados com qualificações de valores culturais pelos próprios oprimidos mas que, na violência direta e crua, precisa encontrar meios de burlar suas próprias normas tendenciosas de boa conduta. A luta pelo direitos das mulheres e dos não-heterossexuais se une por um fator bastante lógico. O opressor é o mesmo: a aplicação de uma cultura androcêntrica e heteronormativa pela figura de um homem que, na pós-modernidade, se mostra compassivo e progressista, mas carrega consigo princípios seculares de subjugação feminina que encontra respaldo uma vez que são introjetados pelas vítimas nascidas imersas nesse sistema. Por isso mulheres não se sentem representadas pelo discurso feminista, o backlash, reação de oposição à questionamentos da ordem vigente que ganharam visibilidade, implantou nas mentes dessa geração a ideia de que o feminismo é o antônimo de machismo e minou muitas das possibilidades de identificação por parte das mulheres. E mais, apregoou a imagem de feministas como sendo mulheres ranzinzas e infelizes. Numa análise mais profunda percebemos como o anti-feminismo é um tiro no pé por denotar ainda mais misoginia. As feministas são constantemente taxadas de (a)”gordas”, (b)”mal-comidas” e (c)”mal-amadas”: a) Partindo do padrão estético atual onde gordas são tratadas com inferiorioridade e relacionadas com uma série de defeitos de personalidade, é um adjetivo que quase sempre vem acompanhado de outro escárnio, “gorda ridícula”, “gorda tosca”, “gorda escrota” são exemplos. A patologização, quase nunca está relacionada a fatores de saúde, mas aparece sempre que a mulher foge do padrão estético criado e mantido por homens cuja hierarquia seria “gostosa”>”magrinha”>”gorda”, sendo as duas primeiras posições variáveis de acordo com o local do mundo de que se trata, para o macho comum, a mulher só é reconhecida como tal enquanto material de masturbação. O neologismo “gordice”, muito usado atualmente, é um substantivo representando o procedimento realizado pela gorda ou gordo e deixa bastante claro o preconceito, uma vez que só é empregado para explicar uma atitude ou comportamento estúpido, idem para “negrice” para o racismo. b) O macho comum constantemente “fode” ou “come” ou invés de “fazer sexo” ou “transar” que representaria uma relação consensual de troca entre dois seres (ao menos no dicionário), pois parece dar preferência a relações destrutivas. “Comer” pressupõe a morte e o consumo de uma das partes para a sobrevivência da outra. Pela negatividade ligada à expressão “mal-comida” supõe-se sempre que a outra parte almeja ser comida e, no processo de digestão, o resultado é sempre … c) “Mal-amadas” sempre por homens, é claro. No patriarcado, a mulher só se completa na presença de um macho, a mulher solteira ou lésbica é muitas vezes (quase sempre) privada de seu reconhecimento de gênero. No casamento, uma das instituições máximas do patriarcado, o rito final evidencia a cooptação do gênero feminino, o sacerdote encerra dizendo “eu vos declaro marido e mulher”, ao invés de “marido e esposa”. O homem, pela cerimônia, passa a ter o papel de marido sem abdicar de todas as suas potencialidades, funções e papéis, enquanto a mulher só a partir desta se torna mulher ou tem sua função limitada à de esposa. Essa passagem nos diz que ser mulher é ser “mulher de alguém”. Interpretar o ato de ser amada como uma boa coisa também pressupõe o reconhecimento do amor enquanto um sentimento verdadeiro, puro e igualitário quando, o que ele realmente representa, é um artifício macho-made para a manipulação de mulheres. O amor romântico é criação de homens para homens num esforço de tornar a subjugação de mulheres uma questão poética e suave aos ouvidos, acalmando seus anseios naturais por liberdade. O preconceito à mulher lésbica é ainda mais destrutivo. Se, por um lado, a lésbica é odiada por não dedicar sua manifestação sexual aos homens, por outro ela é desejada num contexto de assimilação de sua imagem pela indústria do sexo. A lésbica-produto passa por um processo de “higienização estética” na programação midiática patriarcal, pois agrupa todo o leque de padrões construídos e relacionados à mulher consensualmente bonita: cabelos longos, corpo curvilíneo, depilada, seios grandes, lábios carnudos, nariz fino, maquiada. Padrão este que se apropria do fetichismo pedófilo no intuito de criar a imagem de uma mulher frágil e submissa, a pornografia hardcore é bem mais explícita nessa representação e filmes com temática escolar, onde as atrizes usam uniformes de colegial, de líderes de torcida ou aparecem de maria-chiquinha e baby-doll da Hello Kitty em um quarto rosa cercadas por bichinhos de pelúcia. É a infantilização do sexo ou sexualização da infância, a pedofilia não se mostra apenas em casos isolados, mas representa um mercado grande e lucrativo. Essas lésbicas fazem parte da fantasia de todos os homens educados pela pornografia também pois, no fim das contas, não são lésbicas. Na cena seguinte contracenam com um homem e é isso que querem pensar, que uma mulher só compartilha a cama com outra para a satisfação de um macho central. É uma bissexualidade idealizada no modelo sex-positive dos liberais e que já se torna praticamente compulsória em alguns setores da sociedade esclarecida, como diz no vídeo do primeiro kit-gay falho de Dilma, “tenho muito mais opções de parceiros”. Ficam invisibilizadas, nesse sistema, as lésbicas que se recusam a compactuar com o modelo de beleza®, as butches (lésbicas masculinizadas), são inclusive privadas de seu reconhecimento enquanto mulheres, pois não servem nem à pornografia, nem à outra função que os machos queiram atribuí-las em sua servidão, esses que se sentem ameaçados no que representam enquanto fortes e viris, atributos monopolizados pelos machos.

Homens gays além de não reconhecerem o que tangencia sua opressão e a das mulheres, estão diretamente relacionados à construção e a perpetuação de seu padrão estético opressivo. Ele não só o idolatra e o reproduz, afinal, travestis e transgêneros não raramente querem usar saltos, alisar os cabelos (procedimento induzido também, por racismo), se depilar e fazer cirurgias, mas também contribui para aplicação sistemática desse padrão. Cabeleireiros, maquiadores, colunistas de moda, estilistas, fashionistas, todos setores profissionais povoados quase sempre majoritariamente por homossexuais, quando homens. O homem gay moderno modela a mulher que será consumida pelo homem heterossexual. Transgêneros devem sim ter todos os direitos que qualquer cidadão e merecem atenção especial no que diz respeito à segurança por serem caçados nas ruas das metrópoles. A atual interpretação patológica do fenômeno trans é, sem dúvida, homofóbica (ou transfóbica), mas igualmente lastimável é o ideal estético que eles culminam por interpretar como uma vontade inerente a sua personalidade. Homens tornados mulheres podem tirar proveito de todas as suas vantagens de homens, enquanto integrante de uma sociedade falocêntrica, ao mesmo tempo em que conseguem se esquivar das opressões femininas cotidianas. O discurso biologista povoa os círculos de discussão de não-herossexuais com bastante frequência. Exigem respeito porque não escolheram nascer assim, querem justificar suas preferências sexuais em algum lócus gênico da “não-heterossexualidade” e não percebem o quão homofóbico esse discurso pode ser. É como patologizar, isentar-se de culpa por um comportamento que parecem julgar degenerado, como se não desejassem protagonizar a razão pela qual são denegridos. Por dialética, poderíamos dizer então que aquele que é responsável por sua sexualidade pode legitimamente sofrer preconceito? A luta por direitos não deve ser pautada por determinismos, passos na luta contra a homofobia não podem ser medidos na aceitação que os de sexualidades “naturalmente divergentes” atingem, mas poderemos falar em progresso quando a sociedade for capaz de aceitar qualquer manifestação de gênero e sexualidade independente de suas causas. Por que então lutar por algo que você não é responsável nem sente orgulho? Levante as mãos e grite ao mundo que quer seja lésbica, gay, trans…você tem orgulho disso! E, mais que isso, orgulho de ser mulher! Saiba reconhecer oprimido e opressor, pois a homofobia tem por base ou, geralmente, único fator, a misoginia. Gays são odiad#s porque mulheres são odiadas. Unam-se! Pois quanto mais divisões forem estabelecidas entre os não-heterossexuais e divisões entre as mulheres, mais deficiente ficará o combate contra o verdadeiro opressor.

“Sexismo é a fundação onde toda a tirania está construída. Toda forma social de hierarquia é moldada com base na dominação do homem sobre a mulher.”♥Andrea Dworkin

Fonte: http://sindromedeapocalipse.wordpress.com/

PESQUISA IBOPE/CDD INDICA QUE A MAIORIA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA ACREDITA QUE NENHUMA MULHER PODE SER OBRIGADA A SER MÃE

Pesquisa realizada pelo IBOPE, a pedido da organização não governamental Católicas pelo Direito de Decidir (CDD), teve como objetivo investigar junto à população brasileira sua favorabilidade ao recurso ao aborto

 Pesquisa IBOPE/CDD indica que a maioria da população brasileira acredita que nenhuma mulher pode ser obrigada a ser mãe

O IBOPE entrevistou 2002 pessoas, em 140 municípios brasileiros, em novembro de 2010. Foram aplicadas três perguntas pelo IBOPE e os resultados mostram que a maioria (quase 70%) da população brasileira concorda que uma mulher possa interromper uma gravidez quando está em risco sua própria vida ou quando o feto não tem nenhuma chance de sobreviver após o nascimento. Quando a gravidez é decorrente de um estupro 52% dos/as entrevistados/as afirmam concordar com o direito de a mulher decidir interromper a gravidez e para 96% da população não é papel do governo prender as mulheres que realizam um aborto nessas condições, mas sim o de oferecer atendimento nos hospitais públicos.
Questionadas sobre quem deve decidir sobre a interrupção de uma gravidez não planejada, a maioria (61%) dos/as entrevistados/as afirma que deve ser a própria mulher. Apenas 5% da população pesquisada, em média, entendem que instituições sociais como: Igreja, o Congresso Nacional, o Poder judiciário e o/a Presidente da República têm direito a decidir sobre o direito de a mulher interromper uma gravidez. A população entrevistada que se declarou católica mostrou ter posição favorável ao direito de decidir das mulheres sobre a maternidade, mostrando divergência de pensamento em relação ao da instituição religiosa a que pertencem que reiteradamente tem se posicionado de forma contrária ao direito de decidir das mulheres.

Pergunta 1. Eu vou citar algumas situações em que o aborto pode ou não ser realizado, e para cada uma delas, gostaria de saber se o(a) sr(a) concorda ou discorda do direito da mulher realizar o aborto em cada uma destas situações.

Os dados coletados mostram que a maior parte do povo brasileiro concorda com o direito de a mulher interromper a gravidez quando sua vida corre perigo e quando a gravidez é decorrência de um estupro, como prevê a legislação brasileira.  Quando o feto não tem nenhuma chance de sobreviver após o nascimento, para a maioria da população (65%) a mulher deve poder decidir pela interrupção da gravidez, apesar de sua prática ainda ser considerada um crime no país.
Para quase 10% das pessoas respondentes, as mulheres devem poder recorrer ao aborto quando o anticoncepcional falha ou quando faltam recursos econômicos. Vide Gráfico

 

Quando levada em consideração a categoria religião, os/as entrevistados/as que se declararam da religião católica mostraram maior concordância com o direito da mulher decidir interromper uma gravidez, do que aqueles/as que se declararam da religião  evangélica ou de outras religiões.

P2. Quem nesta lista o(a) sr(a) acha que deve decidir se uma mulher pode ou não interromper uma gravidez não planejada?
Questionadas sobre quem deve decidir sobre uma gravidez não planejada, a maioria das pessoas entrevistadas (61%) afirma que essa deve ser uma decisão da mulher. O marido ou o parceiro foi citado por uma minoria (6%) da população.
As instituições sociais como: Igreja, o Congresso Nacional, o Poder judiciário e o/a Presidente da República, foram relatados por uma pequena parcela da população (cerca de 5%) como tendo o direito de decidir sobre a interrupção de uma gravidez não planejada. Vide Gráfico 2.

P3. O que o(a) sr(a) acha que o governo deve fazer em situações em que uma mulher engravida por causa de um estupro?
Perguntadas sobre qual deve ser o papel do governo no atendimento a uma mulher que engravidou como resultado de um estupro, menos da metade da população (48%) referiu que o governo deve convencer a mulher a levar adiante a gravidez, oferecendo em troca pensão alimentícia. Uma parcela significativa dos/as entrevistados/as (40%) acredita que é papel do Estado oferecer atendimento nos hospitais para que a mulher interrompa a gravidez, caso ela queira. Quase a totalidade dos/as brasileiros/as (96%) acha que o governo não deve punir com a prisão a mulher que decidir interromper a gravidez, nessas circunstâncias. Vide Gráfico 3.

Quando o quesito religião é levado em consideração, os respondentes que se declararam da religião católica, mostraram menor concordância a que a mulher seja convencida pelo governo a não fazer o aborto e receba em troca pensão alimentícia, quando comparado com a população evangélica.

Mais abaixo, nesta página, faça download:
1) do folder contendo esta análise (em .pdf);  e
2) dos resultados completos da pesquisa (em .pdf).

Pesquisa de Opinião Pública sobre o Aborto
Coordenadora:
 Rosângela Aparecida Talib

Realização:
Católicas pelo Direito a Decidir

Apoio
IPPF
International Women´s Health Coalition

Dia 28 de setembro é dia de LUTA!

Dia 28 de setembro é o Dia de Luta pela Descriminalização do Aborto na América Latina e Caribe.

Trata-se de uma data para lembrar que as mulheres ainda são consideradas menos cidadãs que os homens, sofrendo interferência sobre seus corpos e sua saúde. Prosseguir ou interromper uma gravidez é algo que só diz respeito à mulher. Por mais que o homem contribua na concepção (e crie teorias que o valorizam como procriador), quem suporta toda a gravidez, quem passa pelo processo de parto, quem cria a criança praticamente sozinha e quem é responsável por ela é a mulher. É ela quem sabe o quanto terá de abdicar de sua vida para poder ter e criar a criança. É ela quem tem de decidir se e quando quer ter filhos. Estado, família e amigos dela devem apoiá-la e respeitá-la em sua decisão, permitindo meios dignos tanto para a continuidade quanto para a interrupção da gravidez. Muitas pessoas não concordam com o direito da mulher abortar porque consideram que isso é uma violência contra o feto. Ao fazer isso, estão invertendo a ordem de prioridades: colocam um não-nascido como tendo prevalência sobre uma pessoa viva, como se a mulher tivesse menos direitos que ele. Temos aí uma hierarquia onde a mulher tem menos direitos, estando relegada à terceira classe: o homem tem prioridade em tudo, estando na primeira classe; o feto (que ainda não nasceu!), na segunda; a mulher, na terceira. Essa é uma visão recente, como pode ser lido neste artigo sobre Igreja e aborto e neste post sobre o aborto na história. Até meados do século XIX aborto era questão íntima, que dizia respeito somente a gestantes e parteiras. É importante notar que o século XIX foi tanto o século da glorificação da maternidade quanto o início dos movimentos feministas, o que resultou na seguinte situação: à medida que as mulheres passaram a exigir participação na política e aquisição de direitos, o aborto se tornou uma questão de controle das mulheres, recebendo das autoridades punição religiosa (pecado) e jurídica (crime). Criminalizar o aborto foi uma forma de interferir na vida das mulheres, restringindo o direito ao próprio corpo e retirando delas o poder de decidir sobre a própria vida. Lutamos hoje para que este direito seja restabelecido. Descriminalizar é necessário. A descriminalização acabará com as clínicas clandestinas de aborto, sem higiene, e responsável por uma larga percentagem de mortalidade materna, especialmente entre mulheres pobres. Acabará com o tráfico de remédios abortivos, inclusive com os remédios falsos vendidos a peso de ouro como se fossem verdadeiros. Acabará com a aberração que é punir criminalmente uma mulher porque ela ousou decidir que não quer ser mãe em determinado momento de sua vida. É necessário também legalizar o aborto. Isso significa que o Estado deve proporcionar condições para que a interrupção voluntária da gravidez seja um procedimento médico a ser realizado na rede pública de saúde, sem que a mulher sofra julgamentos ou sanções por ter escolhido interromper a gravidez. A mulher que escolhe abortar não deve ser tratada como culpada, nem como inferior ao feto, e muito menos pode ser maltratada por profissionais de saúde. Legalizar o aborto proporcionará atendimento digno para as mulheres, concedendo-lhes direitos plenos sobre o próprio corpo.

Observação: este post faz parte da blogagem coletiva pela legalização do aborto convocada pela @A_line_. Leia também os outros posts participantes.

Fonte: http://cynthiasemiramis.org/2010/09/27/pela-legalizacao-do-aborto/

Carta Manifesto da Marcha das Vadias de Brasília – Por que marchamos?

 

Em Brasília, marchamos porque apenas nos primeiros cinco meses desse ano, foram 283 casos registrados de mulheres estupradas, uma média de duas mulheres estupradas por dia, e sabemos que ainda há várias mulheres e meninas abusadas cujos casos desconhecemos;  marchamos porque muitas de nós dependemos do precário sistema de transporte público do Distrito Federal, que nos obriga a andar longas distâncias sem qualquer segurança ou iluminação para proteger as várias mulheres que são violentadas ao longo desses caminhos. No Brasil, marchamos porque aproximadamente 15 mil mulheres são estupradas por ano, e mesmo assim nossa sociedade acha graça quando um humorista faz piada sobre estupro, chegando ao cúmulo de dizer que homens que estupram mulheres feias não merecem cadeia, mas um abraço;  marchamos porque nos colocam rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas de TV nas tardes de domingo e utilizam nossa imagem semi-nua para vender cerveja, vendendo a nós mesmas como mero objeto de prazer e consumo dos homens;  marchamos porque vivemos em uma cultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindo em “santas” e “putas”, e muitas mulheres que denunciam estupro são acusadas de terem procurado a violência pela forma como se comportam ou pela forma como estavam vestidas;  marchamos porque a mesma sociedade que explora a publicização de nossos corpos voltada ao prazer masculino se escandaliza quando mostramos o seio em público para amamentar nossas filhas e filhos;  marchamos porque durante séculos as mulheres negras escravizadas foram estupradas pelos senhores, porque hoje empregadas domésticas são estupradas pelos patrões e porque todas as mulheres, de todas as idades e classes sociais, sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo da vida, seja simbólica, psicológica, física ou sexual. No mundo, marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir culpa e vergonha pela expressão de nossa sexualidade e a temer que homens invadam nossos corpos sem o nosso consentimento;  marchamos porque muitas de nós somos responsabilizadas pela possibilidade de sermos estupradas, quando são os homens que deveriam ser ensinados a não estuprar;  marchamos porque mulheres lésbicas de vários países sofrem o chamado “estupro corretivo” por parte de homens que se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um desvio sexual;  marchamos porque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um marido violentou a esposa e, nesse momento, várias mulheres e meninas estão tendo seus corpos invadidos por homens aos quais elas não deram permissão para fazê-lo, e todas choramos porque sentimos que não podemos fazer nada por nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas podemos. Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas,  já fomos chamadas de vadias porque transamos antes do casamento,  já fomos chamadas de vadias por simplesmente dizer “não” a um homem,  já fomos chamadas de vadias porque levantamos o tom de voz em uma discussão,  já fomos chamadas de vadias porque andamos sozinhas à noite e fomos estupradas,  já fomos chamadas de vadias porque ficamos bêbadas e sofremos estupro enquanto estávamos inconscientes,  já fomos chamadas de vadias quando torturadas e estupradas por vários homens ao mesmo tempo durante a Ditadura Militar.  Já fomos e somos diariamente chamadas de vadias apenas porque somos MULHERES. Mas, hoje, marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredir enquanto mulheres.  Se, na nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓS SOMOS VADIAS.  E somos todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres!  Somos livres de rótulos, de estereótipos e de qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida, à nossa sexualidade e aos nossos corpos.  Estar no comando de nossa vida sexual não significa que estamos nos abrindo para uma expectativa de violência, e por isso somos solidárias a todas as mulheres estupradas em qualquer circunstância, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidade destroçada e muitas vezes foram culpadas por isso.  O direito a uma vida livre de violência é um dos direitos mais básicos de toda mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hoje e marcharemos até que todas sejamos livres. Somos todas as mulheres do mundo! Mães, filhas, avós, putas, santas, vadias…todas merecemos respeito!

 

 


o 54º CONEA vem aí!!!